“Quem sou eu” aos olhos do meu pensamento
Estamos sempre a pensar, mesmo quando achamos que não. Muitas vezes, os pensamentos já são tão automáticos que nem nos apercebemos que os estamos a ter. Muitas vezes, nem sequer lhes prestamos atenção. Ainda assim, pensamos um conjunto de coisas sobre nós, pensamentos esses que fomos desenvolvendo ao longo do nosso desenvolvimento e crescimento, com base no nosso contexto, das escolhas que fazemos, e daquilo que ouvimos o outro dizer sobre nós.
Quando pensamos muitas vezes a mesma coisa, e tal já surge de uma forma automática, significa que esses pensamentos já constituem as crenças que temos sobre nós. Se ouvimos afirmações como “eu acredito em ti, tu és capaz”, é provável que venha a desenvolver crenças sobre si de autoeficácia, de confiança nas suas capacidades e competências. Contudo, também acontece ouvirmos coisas menos boas, o que nos leva ao desenvolvimento de pensamentos negativos sobre nós. Em alguma ocasião, já terá pensado “eu não vou conseguir”, “tudo me corre mal”, “não consigo ter sucesso em nada”. Às vezes pensamos isto tantas vezes e de forma tão automática, que já acreditamos que é verdade, e até generalizamos para o futuro: “eu nunca vou conseguir”, “vai sempre tudo correr-me mal”, “nunca irei conseguir ter sucesso em nada”.
Como não questionamos, habitualmente, a veracidade destes pensamentos, os nossos sentimentos e emoções vão ser congruentes com o pensamento, ou seja, se eu penso que não consigo fazer nada bem, vou-me sentir como uma incompetente; se eu penso que ninguém gosta de mim, então vou sentir-me triste e desvalorizada. Consequentemente, o meu comportamento vai reforçar os pensamentos que tenho sobre mim. Se eu treino no ginásio, e penso que não consigo fazer mais 3 repetições de um exercício, vou sentir-me descrente de mim e, consequentemente, vou parar antes de tentar sequer fazer essas 3 repetições. Se eu vou ter uma apresentação no trabalho e penso que vou meter os pés pelas mãos, vou sentir-me ansiosa, e a probabilidade de chegar à apresentação e ter um discurso confuso é elevada. Estas “falhas” reforçam a crença disfuncional que temos sobre nós.
Quantas vezes terá ouvido que não seria capaz de algo. Foi capaz ou não foi? Se a sua resposta é positiva, dou-lhe os parabéns! Se a sua resposta é negativa, desafio-o/a a questionar-se porquê.
A primeira coisa que pode fazer é questionar-se sobre se esses pensamentos são verdadeiros ou não. No passado podem ter sido verdade, mas e agora? Essas crenças ainda estão atualizadas? Elas ainda fazem sentido no seu contexto atual de vida?
Em segundo lugar, valorize o seu esforço. Nem sempre vamos conseguir tudo o que queremos e/ou precisamos à primeira tentativa, mas o tentar fazer diferente já é melhor que o anterior estado de conformidade. O que é que pode acontecer se só conseguir fazer mais duas repetições em vez de as três? Pode ainda não ter atingido o objetivo, mas já tentou. É a diferença de pensar “nunca vou conseguir fazer mais três repetições” ou pensar “pelo menos tentei, estou mais perto do que estava”. Acrescento, mais do que pensar, acreditar que vai conseguir.
Faça uma lista sobre as crenças que tem sobre si e que surgem no seu pensamento automaticamente em determinadas situações. A vantagem desta lista é conseguir reconhecer o que acredita ser verdade sobre si, e conseguir atualizar essa crença.
Envolva-se num caminho de desenvolvimento pessoal. Neste processo, um/a psicólogo/a pode ajudar, não tem que fazer esse caminho sozinho/a. Aliás, não está sozinho.
Agradeça. Cada vez mais, vai-se falando sobre a gratidão e a importância de agradecer na nossa vida. Agradecer, estarmos gratos/as instiga uma mudança no pensamento, implica encontrar aspetos bons da sua vida e no seu dia-a-dia, quando às vezes estamos num ciclo interminável de pensamentos negativos. Agradecer permite-lhe começar a mudar o seu mindset.
Não seja refém dos seus pensamentos. Você é muito mais do que eles.
Dra. Eunice Caracol, Cédula Profissional nr. 21959