Os pais também precisam de atenção
Vivemos numa época em que nos falta o tempo. Entre o trabalho e a correria do dia-a-dia, resta-nos muito pouco tempo para descansar. Cada vez mais se fala de Saúde Mental, da importância de nos compreendermos e (re)conectarmos connosco próprios, mas chegados ao final do dia, temos muitas vezes a sensação de que não nos resta tempo para o fazer.
Quando somos pais, a situação complica-se. Claro que a parentalidade tem inúmeros pontos positivos, mas parece que “cai mal” à sociedade no geral, falarmos de outros aspetos menos positivos que a parentalidade acarreta. Como se fosse proibido os pais assumirem-se cansados, esgotados e com vontade de estarem a sós sem os filhos. Internalizou-se a ideia de que os “bons pais” são aqueles que dão conta de tudo, sem falarem das suas dificuldades, mas será que é isso que nos define como bons ou maus pais?
Quando temos filhos, a tendência é que lhes dediquemos todo o tempo que temos. Passamos o dia no trabalho, as crianças na escola, e quando chegamos a casa o trabalho continua. É preciso cuidar da casa, fazer as refeições, dar banhos, brincar, fazer os trabalhos de casa, levar os miúdos às atividades, escutá-los, adormecê-los, educa-los...e onde fica o tempo dos pais? No meio de tantas tarefas diárias, os pais acabam por se colocar em segundo plano, esquecem-se de cuidar de si. Mas como é que os pais podem cuidar bem dos filhos, se não cuidam deles próprios? Que exemplo, enquanto pais, estarão a passar aos seus filhos? Que devemos cuidar das necessidades dos outros primeiramente, ficando as nossas para segundo plano, ou por vezes anuladas?
Há cada vez mais stress associado à parentalidade, com pouca margem para o auto cuidado dos pais, que pode rapidamente escalar para um quadro de Burnout Parental, caracterizado por exaustão emocional, distanciamento emocional dos filhos, sentimentos de infelicidade e insatisfação, fraca realização pessoal, bem como sensação de incapacidade para desempenhar o papel de pais e cuidadores. No entanto, o Burnout Parental diferencia-se do Burnout em contexto de trabalho, uma vez que os pais não podem pedir uma licença, uma baixa, ou desistir do seu trabalho de pais.
Chegando a esta situação limite, os pais entram facilmente num ciclo destrutivo. Sentem-se incapazes e exaustos, acabam por ter respostas mais impulsivas e agressivas (físicas, verbais e psicológicas), o que depois lhes gera um sentimento de culpa e remorso, que os torna, consequentemente, mais sensíveis e reativos. A Saúde Mental fica, inevitavelmente, muito comprometida, o que por sua vez compromete o seu bem-estar individual e o bem-estar dos filhos. Por sua vez, os filhos sentem-se pouco desejados e apoiados, podendo experienciar sentimentos de culpa, por acreditarem que são a causa do estado limite dos pais.
Os pais precisam de tempo para si, sozinhos e em casal. Precisam de permitir-se cuidar de si enquanto pessoas, a ter outros papéis para além de mãe e pai, como o papel de amigos, namorados ou filhos. Este tempo a sós, para recarregar baterias, mais do que um “luxo”, é uma necessidade e pode ser usado inclusive dentro de casa. Ir jantar fora em casal ou com amigos, passar um fim de semana fora, tomar um banho quente, ler um livro, ver um filme, praticar exercício físico, são alguns exemplos de como aproveitar este tempo.
Muitos são os pais que se sentem culpados por sentirem falta do seu espaço, de estarem sozinhos, de dedicarem tempo a namorar um com o outro. Não há nada de errado nisso! Antes de os pais serem pais, já eram um casal e mesmo antes de serem um casal, já eram (e continuam a ser) pessoas individuais. A relação com os filhos tem que ser muito cuidada, sem dúvida, precisam de tempo de atenção plena com os pais, mas também a relação entre casal e o bem-estar individual têm que ser promovidos. Isto não significa que tenha que existir um “corte” nos laços entre pais e filhos, muito pelo contrário. Claro que as crianças precisam de tempo com os pais, até porque cada vez passam menos tempo com eles, mas é preciso que os pais tenham disponibilidade emocional para esse contacto, porque mais do que muito tempo (em quantidade) com os pais, os filhos precisam de tempo de qualidade com eles.
Convém também referir que muito se tem falado da exaustão das mães, que ainda são consideradas “cuidadoras principais”, mas negligencia-se o papel dos pais, como se todos os pais, por sistema, se demitissem das suas funções. É mentira. Sim, há mães exaustas e também há pais exaustos, pais que são “cuidadores principais” e pais que partilham a parentalidade com as mães.
Por isso, deixo-vos com esta reflexão: afinal, será que os nossos filhos querem pais perfeitos, ou pais felizes?
Dra. Beatriz Almeida, Cédula Profissional nr. 25642
Quando somos pais, a situação complica-se. Claro que a parentalidade tem inúmeros pontos positivos, mas parece que “cai mal” à sociedade no geral, falarmos de outros aspetos menos positivos que a parentalidade acarreta. Como se fosse proibido os pais assumirem-se cansados, esgotados e com vontade de estarem a sós sem os filhos. Internalizou-se a ideia de que os “bons pais” são aqueles que dão conta de tudo, sem falarem das suas dificuldades, mas será que é isso que nos define como bons ou maus pais?
Quando temos filhos, a tendência é que lhes dediquemos todo o tempo que temos. Passamos o dia no trabalho, as crianças na escola, e quando chegamos a casa o trabalho continua. É preciso cuidar da casa, fazer as refeições, dar banhos, brincar, fazer os trabalhos de casa, levar os miúdos às atividades, escutá-los, adormecê-los, educa-los...e onde fica o tempo dos pais? No meio de tantas tarefas diárias, os pais acabam por se colocar em segundo plano, esquecem-se de cuidar de si. Mas como é que os pais podem cuidar bem dos filhos, se não cuidam deles próprios? Que exemplo, enquanto pais, estarão a passar aos seus filhos? Que devemos cuidar das necessidades dos outros primeiramente, ficando as nossas para segundo plano, ou por vezes anuladas?
Há cada vez mais stress associado à parentalidade, com pouca margem para o auto cuidado dos pais, que pode rapidamente escalar para um quadro de Burnout Parental, caracterizado por exaustão emocional, distanciamento emocional dos filhos, sentimentos de infelicidade e insatisfação, fraca realização pessoal, bem como sensação de incapacidade para desempenhar o papel de pais e cuidadores. No entanto, o Burnout Parental diferencia-se do Burnout em contexto de trabalho, uma vez que os pais não podem pedir uma licença, uma baixa, ou desistir do seu trabalho de pais.
Chegando a esta situação limite, os pais entram facilmente num ciclo destrutivo. Sentem-se incapazes e exaustos, acabam por ter respostas mais impulsivas e agressivas (físicas, verbais e psicológicas), o que depois lhes gera um sentimento de culpa e remorso, que os torna, consequentemente, mais sensíveis e reativos. A Saúde Mental fica, inevitavelmente, muito comprometida, o que por sua vez compromete o seu bem-estar individual e o bem-estar dos filhos. Por sua vez, os filhos sentem-se pouco desejados e apoiados, podendo experienciar sentimentos de culpa, por acreditarem que são a causa do estado limite dos pais.
Os pais precisam de tempo para si, sozinhos e em casal. Precisam de permitir-se cuidar de si enquanto pessoas, a ter outros papéis para além de mãe e pai, como o papel de amigos, namorados ou filhos. Este tempo a sós, para recarregar baterias, mais do que um “luxo”, é uma necessidade e pode ser usado inclusive dentro de casa. Ir jantar fora em casal ou com amigos, passar um fim de semana fora, tomar um banho quente, ler um livro, ver um filme, praticar exercício físico, são alguns exemplos de como aproveitar este tempo.
Muitos são os pais que se sentem culpados por sentirem falta do seu espaço, de estarem sozinhos, de dedicarem tempo a namorar um com o outro. Não há nada de errado nisso! Antes de os pais serem pais, já eram um casal e mesmo antes de serem um casal, já eram (e continuam a ser) pessoas individuais. A relação com os filhos tem que ser muito cuidada, sem dúvida, precisam de tempo de atenção plena com os pais, mas também a relação entre casal e o bem-estar individual têm que ser promovidos. Isto não significa que tenha que existir um “corte” nos laços entre pais e filhos, muito pelo contrário. Claro que as crianças precisam de tempo com os pais, até porque cada vez passam menos tempo com eles, mas é preciso que os pais tenham disponibilidade emocional para esse contacto, porque mais do que muito tempo (em quantidade) com os pais, os filhos precisam de tempo de qualidade com eles.
Convém também referir que muito se tem falado da exaustão das mães, que ainda são consideradas “cuidadoras principais”, mas negligencia-se o papel dos pais, como se todos os pais, por sistema, se demitissem das suas funções. É mentira. Sim, há mães exaustas e também há pais exaustos, pais que são “cuidadores principais” e pais que partilham a parentalidade com as mães.
Por isso, deixo-vos com esta reflexão: afinal, será que os nossos filhos querem pais perfeitos, ou pais felizes?
Dra. Beatriz Almeida, Cédula Profissional nr. 25642