Divórcio: Factor de risco ou de proteção?
Se há coisa que não existe ao longo do crescimento de uma criança são sentenças. Além de a criança ser resultado da interação entre o seu organismo biológico e os contextos em que se insere, as trajetórias de desenvolvimento não podiam ser mais variáveis. É mito que crianças que crescem em famílias de pais divorciados sofrem, necessariamente, de psicopatologia.
Famílias de pais divorciados não são “lares desfeitos”, são famílias que simplesmente oferecem oportunidades diferentes, porque as suas caraterísticas são, também elas, diferentes. Até porque o valor de uma mãe ou de um pai não está na relação conjugal, mas sim no desempenhar da função parental.
Quando existe a crença de que o rótulo (filho/a de pais divorciados), por si só, dita uma sentença (perturbação emocional), a criança vai interiorizá-la e agir em conformidade, como se de uma profecia de autorrealização se tratasse.
Se, pelo contrário, assumir a atitude de que, dentro do incontrolável (divórcio), as figuras parentais estão a desempenhar, da melhor forma que sabem e podem, a respetiva função, o prognóstico é muito favorável, não traduzindo mal-estar clínico (“Eu não posso mudar o que aconteceu, mas posso mudar a forma como estou a lidar com esta situação, beneficiando do que ela me traz!”).
Assim, o conceito de família não é mais um conceito tradicional.
As famílias de hoje são elásticas e mutáveis, até porque nem sempre é “até sermos velhinhos” e existe vida depois do divórcio.
Os pais, depois de se separarem, têm o direito de se voltar a apaixonar e idealizar novos projetos de vida. Por isso é que hoje o conceito de família é dinâmico, caraterística que lhe confere complexidade. A complexidade pode ser desafiante, no entanto, não tem, necessariamente, de ser prejudicial.
Dra. Jéssica Torrado, Cédula Profissional nr. 26690