A importância da intervenção neuropsicológica em pessoas com diabetes
Atendendo ao perfil neuropsicopatológico que está associado às pessoas com diabetes, é manifesto que perante as alterações neuropsicológicas decorrentes desta patologia e o impacto pejorativo que estas mesmas alterações podem assumir na adesão ao tratamento, na gestão e controlo da doença, nas atividades de vida diária (com implicações ocupacionais e familiares), no elevado risco de desencadearem uma situação de perturbação neurocognitiva ligeira e major (Biessels, et al., 2006 cit. por Biessels, Deary, & Ryan, 2008) (i.e., défice cognitivo ligeiro (Abdel-Latif, Hassan, Gabal, Hemeda, El-Chami, & Salama, 2020; Valenza, Paciaroni, Paolini, Bonfigli, Rosa, et al., 2020), demência de tipo Alzheimer (Biessels, Deary, & Ryan, 2008; Cholerton, Baker, Montine, & Craft, 2016), demência vascular (Biessels, Deary, & Ryan, 2008; Cheng, Sy, Wu, Wang, & Chen, 2012; Cholerton, Baker, Montine, & Craft, 2016)) e de acelerar o envelhecimento cerebral (Antal, McMahon, Sultan, Lithen, Wexler, Dickerson et al., 2022) consumindo recursos humanos, sociais e económicos elevadíssimos, a inclusão da intervenção neuropsicológica como parte integrante da resposta interdisciplinar às necessidades multifatoriais que estes pacientes apresentam é essencial, se efetivamente quisermos prestar um acompanhamento em favor e beneficio da sua qualidade de vida. Ainda assim, importa dizer que não é por uma pessoa ser diagnosticada com diabetes que passa automaticamente a ter alterações neuropsicológicas, mas o risco de as vir a desenvolver é elevado face às pessoas que não têm diabetes.
Desta forma, perante o risco existente, dois propósitos orientadores de intervenção devem ser considerados sempre que o paciente tem queixas e/ou sintomas do foro neuropsicológico: a resposta clínica e a resposta preventiva. Isto é, por um lado, a possibilidade de existirem alterações neuropsicológicas, o que evoca a importância de ser feita avaliação neuropsicológica para se obter um diagnóstico precoce (ou tão precoce quanto possível) e, subsequentemente, intervenção reabilitativa e o respetivo acompanhamento clínico. Por outro lado, a possibilidade das queixas não se traduzirem em alterações neuropsicológicas e serem enquadradas no domínio das queixas subjetivas, contudo, para tal conclusão é necessária a realização de uma avaliação neuropsicológica e, nesta situação, obtém-se o perfil de “baseline”, sendo que a intervenção subsequente terá características de neuroestimulação e o acompanhamento ajustar-se-á à evolução do risco.
É certo que ninguém pode evitar o aparecimento de um quadro neuropsicopatológico, mas o acompanhamento da evolução do risco permite o diagnóstico precoce, assim como permite um uso dos recursos mais ajustado, eficiente e personalizado face ao curso das necessidades do paciente, possibilitando que, perante o eventual aparecimento de alterações, o impacto dessas alterações seja o menor possível e sentido pelo paciente o mais tarde possível, preservando o seu bem-estar e a sua qualidade de vida por mais tempo.
Espero que tenha sido um tema do seu interesse e que de alguma forma lhe possa ser útil.
Dra. Dulcineia Boto, Cédula Profissional nr. 14875